Foi com muito Orgulho que no passado sábado tive uma entrevista minha publicada no Jornal "União" com direito a capa do jornal e tudo.
Especial agradecimento ao Jornal, especialmente à Sónia Bettencourt pela mesma entrevista.
Aqui vai por extenso:
Um desafio pessoal e uma estratégia de marketing ao mesmo tempo. Marcos Martins, produtor e compositor hip hop, natural da Praia da Vitória, ilha Terceira, faz da palavra arma e do som luta, desta feita em “12 Meses 12 Vezes” – o novo projecto lançado em Janeiro passado e cuja expressão artística estende-se ao videoclip.Deste modo faz também valer o lado positivo do actual cenário vivido no País e na indústria discográfica: a crise como estímulo de criação artística.
A União (AU) – No início deste ano arrancou com um projecto intitulado “12 Meses 12 Vezes”. Em que consiste este trabalho?
Marcos Martins (MM) – O trabalho consiste num “pequeno” desafio que fiz a mim mesmo de lançar uma canção original por mês, com videoclip, ao longo do ano. Além de ser um desafio tenta também ser um veículo de promoção sem muitos custos financeiros, para dar a conhecer o meu trabalho a um maior número de pessoas.
AU – Qual a sua perspectiva de mercado e de público, na qualidade de compositor e produtor?
MM – É mundial, já não há espaço para pensarmos pequenino, da mesma forma que, se uma equipa joga para empatar, quase de certeza que vai perder, por isso é que eu e o grupo de artistas com quem trabalho, pensamos que não deve haver limite no público do nosso trabalho. Isso não quer dizer que o mundo inteiro vá ouvir a nossa música, mas pouco a pouco começam a tomar conhecimento, por exemplo, das canções “Nossa Vida”, integrada no projecto 12 Meses 12 Vezes, que alcançou 1200 visualizações em dois meses em 24 países, e a canção “Estatísticas”, com o Fugitivo, que somou 1200 visualizações em 18 países. Em tempos pensámos ser uns ‘coitadinhos’ no meio do mar, mas hoje em dia, com o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, o céu é o limite.
AU – Há público aqui, nos Açores, que justifique o investimento nesta forma de expressão musical?
MM – Possuo estúdio próprio e, hoje em dia, com as redes sociais como o Facebook e Twitter, podemos criar a nossa música e espalhá-la sem ter que investir a nível financeiro. Teremos sempre alguns obstáculos de ligação às “máquinas”, isto é, as editoras, contudo podemos mesmo assim fazer um bom trabalho de promoção.
AU - Como define o seu estilo dentro do hiphop?
MM - Não podemos considerar estilo, mas se for para catalogar posso dizer que é Rap, a velha escola, focado na mensagem e na palavra. Os temas são basicamente tudo o que me envolve como indivíduo e cidadão. Seria da maior falsidade se não escrevesse sobre mim e o que me rodeia diariamente.
AU - Começou por dar os primeiros passos em 1994. O que o cativou nesse período?
MM - Senti a necessidade de ser “algo” nesta vertente musical / estilo de vida. Tinha consciência que seria apenas um grão de areia neste deserto mas mesmo assim queria fazer mais do que somente ouvir música. E, assim, com o tempo, assumiu-se como uma terapia dado que ao rimar numa canção não gaguejo. Serve então, além de um desabafo mental, uma escapatória no contexto da gaguez.
AU - Passados seis anos surgem as primeiras composições e, depois, em 2001, mas desta feita em Lisboa, assume uma postura mais séria do trabalho como músico. Estamos a falar de um ponto de viragem significativo? O que esteve em causa?
MM - Completamente. Essa viagem académica até Lisboa, zona central doHiphop em Portugal, sendo o Porto a zona Norte, permitiu-me aprender muito mais do Hiphop nacional com artistas como Sam The Kid, Valete, Xeg e, claro, o primeiro álbum que comprei na famosa Kingsize dos Mundo e Ex-peão.
AU - Ainda mais tarde é que lança o seu primeiro álbum “Eu, Eles e os Outros”. Estas passagens de tempo significam dificuldade em criar nome, digamos assim, ou, por outro lado, indicam método, estratégia e organização de planos?
MM - Significaram o facto de me tornar mais adulto, ter confiança no meu trabalho, e querer passar a mensagem que o Hiphop cá, na ilha Terceira, não é apenas um passatempo de meia dúzia de miúdos. Quando editei o álbum tinha 26 anos, e, após uma passagem muito importante na minha vida, senti a necessidade, sim, de criar novos métodos, estratégias e imagem para dar a conhecer o meu trabalho.
AU - Diz o ditado popular que “santos da casa não fazem milagres”. É esta a realidade local ou, pelo contrário, o reconhecimento vai-se fazendo?
MM - Santos da casa fazem milagres, se a igreja deixar (risos). São vários os exemplos de músicos terceirenses, e não só, que conseguem ter grande qualidade e alcançar outras fronteiras, como os October Flight. Contudo, a nível local é sempre muito mais difícil. Queria eu ter a felicidade e orgulho de dizer que artistas como eu, e muitos outros do Hiphop, tivessem reconhecimento e apoio das identidades, mas não temos.
AU - A um dado momento diz no seu currículo que “colabora intensamente com o Jay e Fugitivo na luta diária na transmissão de uma imagem adulta e real do Hiphop na Ilha Terceira”. Que imagem “adulta e real” é esta a que se refere?
MM – Nós não somos miúdos a tentar passar por músicos, que andam o dia inteiro a dizer “yo yo”, com calças largas, diamantes e carros de jantes de 20 e tal polegadas. Nós, eu, o Jay, Fugitivo e Kapu, principalmente, temos uma preocupação pessoal e social em todas as nossas canções, tentamos “estimular” a nossa mente, o pensar, e a sociedade com os nossos trabalhos. Não queremos abordar temas sobre noitadas, sexo e futilidades, mas antes falar de preocupações diárias de qualquer português, tal como a recessão.
É isto que se baseia “o verdadeiro Hiphop”, por menos popular que possa parecer, sem deixarmos de respeitar posições contrárias, preferimos passar por “adultos e reais” do que “vira casacas” por questões comerciais.
AU - Participou em várias canções de outros artistas, inclusive ao vivo, e criou instrumentais como produtor. A música é uma área solidária?
MM - Tenho o orgulho de dizer que, hoje em dia, dentro do Hiphop cá na ilha, é solidário e há entreajuda. Passaram-se anos em que havia pouca solidariedade no nosso movimento mas deram-se mudanças positivas.
Aproveito para mandar um abraço a todos, nomeadamente o 7Vidas, Nate Bowie, Mc As, Instinct, Horta G, Fred Cabral, NSN, Fat G, Zé Rocha, BHR e DML.
AU - Possui um estúdio de gravação, designado por “3ª Marav(ilha)” em Angra do Heroísmo. Tem rituais antes de entrar em estúdio, horas certas do dia, e algum género de disciplina para a criação artística?
MM – Não dá para ter muitos rituais na fase de criação. A criação surge naturalmente. Porém, a madrugada tem se mostrado mais propícia à criatividade.
AU - O que o move enquanto artista numa época de crise na indústria e na sociedade à escala mundial?
MM – O meu grupo e este país que está em crise. As situações de dificuldade, vividas por todos nós, portugueses, estimulam a criatividade neste caso musical, sendo que a música serve de refúgio e ferramenta para exprimir o nosso estado de espírito e a nossa posição face a determinados assuntos. E, felizmente, ainda não somos censurados.
Desde que façamos o que gostamos, e que tenhamos gosto, creio que dificilmente haverá crise na nossa música.
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Sónia Bettencourt sonia@auniao.com
Foto: Ruben Tavares
26/03/2012
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